A recente divulgacao de que apenas 30 medicos brasileiros optaram por declarar seus vinculos com a industria farmaceutica, conforme estabelecido pela norma do Conselho Federal de Medicina (CFM), e um indicativo preocupante sobre a transparencia no setor de saude. Essa medida, implementada pelo CFM, visava justamente trazer maior clareza sobre os possiveis conflitos de interesse que podem influenciar as praticas medicas e as recomendacoes de medicamentos. A adesao extremamente baixa sugere que a maioria dos profissionais pode desconhecer a norma, desconsiderar sua importancia ou, em um pior cenario, optar por nao revelar informacoes que poderiam levantar questionamentos sobre sua independencia profissional. Essa falta de transparência dificulta para os pacientes e para a sociedade em geral a avaliacao da imparcialidade das prescricoes medicas e das orientacoes recebidas. A industria farmaceutica, por sua vez, investe significativamente em marketing e em relacoes com medicos, o que pode incluir patrocinios de eventos, viagens, apresentacoes e ate mesmo honorarios por consultoria. Embora muitas dessas atividades sejam legitimas e sirvam para a atualizacao profissional e divulgacao de novas descobertas cientificas, a opacidade sobre esses vinculos pode gerar desconfianca e a percepcao de que as decisoes medicas podem ser influenciadas por interesses comerciais em detrimento da saude do paciente. A normatizacao do CFM era um passo importante na direcao da etica e da responsabilidade profissional, buscando equiparar o Brasil a outros paises onde a divulgacao desses relacionamentos e mais consolidada e exigida. A baixa adesao, contudo, pode indicar a necessidade de uma maior campanha de conscientizacao por parte do CFM e de outras entidades medicas, alem de possiveis discussões sobre o aprimoramento da propria norma e mecanismos de fiscalizacao mais eficazes. A garantia de que as decisoes medicas sao tomadas com base unicamente no bem-estar do paciente e fundamental para a credibilidade do sistema de saude como um todo. Sem a adesao em massa a praticas transparentes, o risco de conflitos de interesse nao declarados e de desinformacao persistira, prejudicando a confianca entre medicos e pacientes e a percepcao publica sobre a conduta etica na medicina. A comunidade medica e a sociedade civil precisam debater abertamente os caminhos para assegurar que a relacao entre medicos e a industria seja transparente e eticamente inquestionavel, promovendo um ambiente onde a saude do paciente seja sempre a prioridade maxima e inegociavel.