Governo Milei justifica colonialismo europeu com vídeo controverso
Um vídeo oficial do governo argentino, liderado por Javier Milei, celebrou a chegada do navegador Cristóvão Colombo às Américas como um evento que marcou a introdução da civilização. A produção, amplamente divulgada e comentada nas redes sociais, utiliza a retórica de que a ‘civilização venceu a selvageria’, uma perspectiva que ignora a complexidade histórica e o impacto devastador da colonização nas populações indígenas e suas culturas. Historiadores e especialistas em história colonial têm criticado veementemente a narrativa apresentada, apontando para a sua simplificação excessiva e a romantização de um período marcado por violência, exploração e genocídio. A visão eurocêntrica contida no vídeo desconsidera as ricas e complexas civilizações pré-colombianas que existiam nas Américas, com suas próprias formas de organização social, política, religiosa e cultural, que foram desmanteladas e suprimidas pela força.
A justificativa apresentada pelo governo Milei ecoa discursos coloniais do passado, que buscavam legitimar a dominação europeia através da ideia de superioridade cultural e racial. Essa narrativa ignora as vastas contribuições das civilizações ameríndias e o legado de injustiça e desigualdade que a colonização deixou para os povos originários, cujas lutas por reconhecimento e reparação continuam até os dias atuais. A visão apresentada no vídeo não apenas desrespeita a memória e a história dos povos indígenas, mas também perpetua estereótipos prejudiciais que dificultam a construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente de seu passado.
A repercussão negativa do vídeo não se limitou à Argentina. Em diversos países da América Latina, organizações indígenas e defensores dos direitos humanos emitiram notas de repúdio, ressaltando a importância de revisitar a história sob uma perspectiva crítica e antirracista. Eles alertam para o perigo de utilizar o poder do Estado para disseminar visões revisionistas e que negam a violência estrutural da colonização. A celebração da chegada de Colombo como mero avanço civilizatório mascara o processo brutal de extermínio, escravização e o roubo de terras que se seguiram à invasão europeia, além da imposição de sistemas políticos e religiosos alienígenas.
É fundamental que a análise histórica sobre a chegada dos europeus às Américas seja baseada em evidências robustas e em uma compreensão multifacetada dos eventos, reconhecendo tanto as conquistas quanto as tragédias. A educação e o debate público devem promover uma visão mais justa e precisa da história, valorizando a diversidade cultural e a importância das contribuições de todos os povos para a formação das nações latino-americanas, em vez de perpetuar narrativas que silenciam ou distorcem as experiências dos mais oprimidos ao longo dos séculos.