Família envenenada com baião de dois: veja a cronologia do crime que deixou 4 pessoas mortas no Piauí

Quatro pessoas morreram e uma menina de 4 anos continua internada em estado grave, vítimas de envenenamento por terbufós, um composto agrícola altamente tóxico. A Polícia Civil investiga o caso. Nove pessoas foram hospitalizadas após comerem arroz envenenado
Elbert Ribeiro/TV Clube
Nove pessoas de uma mesma família foram envenenadas após comerem um baião de dois no almoço do dia 1 de janeiro em Parnaíba, no Norte do Piauí. Quatro delas morreram uma menina de 4 anos continua internada em estado grave.
A família já havia passado por uma tragédia relacionada ao envenenamento: a morte de dois meninos de 7 e 8 anos em 2024 (leia mais sobre esse caso abaixo).
Veja abaixo a cronologia do caso até o momento:
Dia 31: a festa de réveillon
Dia 1: o dia do envenenamento
Dias 2 a 4: investigação
Dia 5: Laudo confirma contaminação do baião de dois
Dia 6: morre a 3ª vítima
Dia 7: morre a 4º vítima
Veneno agrícola altamente tóxico
O que falta saber
Segundo caso de envenenamento
Dia 31 de dezembro: a festa de réveillon
No dia 31 de dezembro de 2024, noite de Réveillon, a família preparou uma ceia para comemorar a virada: carne, feijão tropeiro e baião de dois.
Todos comeram, se divertiram e, de madrugada, alguns foram dormir e outros voltaram para suas casas. Nenhum deles sentiu qualquer sintoma.
A matriarca da família é Maria dos Aflitos, de 52 anos, que vivia com o marido Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, três de seus filhos e três netos: Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, e uma adolescente de 17 anos; Francisca Maria, de 32 anos e seus filhos Igno Davi da Silva, Maria Lauane e uma menina de 4 anos.
Dia 1: o dia do envenenamento
A tragédia da família envenenada no Piauí
No dia seguinte, 1º de janeiro, eles se reuniam novamente para comer o que havia sobrado da ceia de réveillon: feijão tropeiro e baião de dois.
Pela manhã, um casal que realiza um trabalho social de doação de alimentos passou pela casa e doou para a família parte dos peixes que haviam doado também para outras casas da região.
A família então fritou os peixes e serviu no almoço do dia 1º, para acompanhar o baião de dois. Poucos minutos depois, começaram a sentir os efeitos do envenenamento.
“No dia 31, a família fez o baião de dois e consumiu, mas ninguém passou mal. Só depois do meio dia do dia 1º começaram a sentir os efeitos”, comentou o delegado Abimael Silva, responsável pelo caso.
Além dos moradores, estavam na casa Maria Jocilene, de 32 anos (ex-nora de Maria dos Aflitos) e seu filho, de 11 anos.
Ao todo, 9 pessoas foram atendidas com sintomas de envenenamento:
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos;
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos;
A adolescente de 17 anos, filha de Maria dos Aflitos;
Francisca Maria, de 32 anos e seus filhos Igno Davi da Silva, Maria Lauane e uma menina de 4 anos;
Maria Jocilene e seu filho de 11 anos.
A matriarca, Maria dos Aflitos, não almoçou junto com a família porque estava dormindo.
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, e Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, filho de Francisca Maria, morreram no dia 1º, horas depois do início dos sintomas.
Dias 2 a 4: investigação
Duas pessoas morrem com suspeita de envenenamento no litoral do PI; outras 7 da mesma família são internadas
Montagem g1
Nos dias seguintes ao envenenamento, algumas das vítimas receberam alta e voltaram para casa:
Maria Jocilene, de 32 anos (ex-nora de Maria dos Aflitos);
O filho de Jocilene, um garoto de 11 anos.
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos
A adolescente de 17 anos, filha de Maria dos Aflitos;
Enquanto isso, a Polícia Civil de Parnaíba iniciou a investigação sobre o caso, ouvindo testemunhas e requisitando exames periciais tanto para a comida como nos corpos das vítimas.
O casal de pescadores que doou os peixes para a família eram considerados culpados, pois naquele momento acreditava-se que o veneno teria sido colocado nas manjubas. Eles chegaram a prestar depoimento à Polícia.
Dia 5: Laudo confirma contaminação do baião de dois
Família envenenada: laudo revela mais detalhes do caso
No dia 5 de janeiro, foi concluído o laudo pericial do Instituto de Medicina Legal (IML) sobre a comida que foi ingerida pela família. O laudo revelou que o veneno estava no baião de dois (arroz preparado com feijão). Com o resultado, a polícia passou a investigar o caso como um homicídio.
Segundo o médico Antônio Nunes, diretor do IML, o veneno foi colocado em grande quantidade no baião de dois. “Estava em todo o arroz, em grânulos visíveis”, comentou o médico.
Família envenenada no Piauí: laudo do IML mostra grânulos de veneno na comida
Reprodução/ IML
Já no peixe que foi servido, nada foi encontrado. A princípio, suspeitou-se que os peixes, tivessem envenenados ou mesmo estragados, mas o exame pericial afastou essa possibilidade, e as pessoas que doaram os peixes à família não são mais considerados suspeitos pela Polícia.
A situação deixou com medo de represálias o casal que doou uma cesta básica e peixe manjuba para a família. Desde o acontecido, eles tiveram que lidar com comentários extremos nas redes sociais. Alguns diziam que eles mereciam ser esquartejados, de acordo com a esposa.
“Deixei de mexer nas redes sociais só pra não ver comentário. A gente fica ruim da cabeça. Tá complicado dormir com essa situação”, lamentou o marido, que conversou com o Fantástico sob a condição de anonimato.
Dia 6: morre a 3ª vítima
Menina de 3 anos é a terceira pessoa morta por envenenamento no PI
Arquivo pessoal/TV Globo
Na madrugada do dia 6 de janeiro, morreu Maria Lauane, de 3 anos. Assim, permanecem internadas a irmã dela, uma menina de 4 anos, e a mãe, Francisca Maria, de 32 anos.
Dia 7: morre a 4ª vítima
Morre quarta vítima de envenenamento no almoço de ano novo no Piauí
Francisca Maria da Silva, de 32 anos, morreu na madrugada desta terça-feira (7) no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda). Francisca era a mãe de duas das crianças que morreram, Igno Davi e Maria Lauane, e também da menina de 4 anos que continua internada.
Além disso, Francisca também era mãe de João Miguel e Ulisses Gabriel, os dois meninos que morreram envenenados em 2023, após comerem cajus que estavam contaminados com a mesma substância.
Veneno agrícola altamente tóxico
A substância encontrada no baião de dois pelos peritos do Instituto Médico Legal (IML) foi o veneno “terbufós”, da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas).
O veneno ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos, causando tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas. Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno, e os efeitos podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
A substância ‘terbufós’, um composto químico usado em inseticidas.
Reprodução
Segundo o médico Antônio Nunes, diretor do IML, o veneno foi colocado em grande quantidade no baião de dois. E, segundo o médico, qualquer quantidade de terbufós ingerida causa danos à saúde. A proporção dos danos varia de acordo com a quantidade consumida e o corpo da vítima (altura, peso, massa corporal). Por isso, os efeitos são mais agressivos nas crianças.
O que falta saber
Agora, a Polícia Civil investiga como o veneno chegou ao baião de dois. “É impossível ter ido parar lá sem intenção de alguém”, comentou o delegado Abimael Silva.
Com a conclusão dos laudos, os investigadores buscam descobrir quem cometeu o crime: se foi alguém da família ou se outra pessoa entrou na casa sem ser percebido e envenenou o baião de dois. Os policiais não descartam que o crime pode ter sido cometido por alguém que estava na casa, um membro da família.
Mas os policiais também investigam se alguma pessoa teria invadido a casa durante a madrugada do dia 1º, enquanto todos dormiam depois da festa de réveillon. Segundo a matriarca da família, Maria dos Aflitos, as portas da casa não têm trancas.
Segundo caso de envenenamento
Ulisses Gabriel e João Miguel, mais novos na foto, foram envenenados com cajus
Arquivo pessoal
Em agosto de 2023, dois meninos de 8 e 7 anos, filhos de Francisca Maria, morreram após comerem cajus envenenados.
João Miguel da Silva, de 7 anos, morreu três dias depois de comer os cajus envenenado. Já Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, morreu após dois meses internado no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Segundo a polícia, Lucélia Maria Gonçalves, uma vizinha irritada com os meninos que costumavam invadir o quintal da casa dela para roubar frutas, foi presa suspeita de ser autora do crime e indiciada por homicídio qualificado.
O Ministério Público do Piauí (MPPI) denunciou Lucélia pelos mesmos crimes apontados pela polícia. A suspeita foi presa em flagrante, negou as acusações e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça dias depois. Ela continua detida na Penitenciária Mista de Parnaíba.
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