O presidente russo, Vladimir Putin, declarou abertamente na Cúpula dos Brics que a ordem mundial unipolar, caracterizada pela predominância de uma única potência, está em colapso. Em seu discurso, Putin enfatizou a necessidade de aumentar o volume de transações comerciais realizadas em moedas locais entre os países membros do bloco, composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Essa proposta visa reduzir a dependência do dólar americano e fortalecer a soberania econômica das nações emergentes em um cenário global cada vez mais multipolar. A argumentação russa se alinha com a percepção de que o modelo de globalização liberal baseado na hegemonia ocidental está se tornando obsoleto, abrindo espaço para novas configurações de poder e cooperação internacional. A fala de Putin também reflete a busca por maior estabilidade financeira e autonomia frente às pressões geopolíticas e sanções econômicas impostas por algumas potências globais. Ao promover o uso de moedas locais, os Brics buscam criar um sistema financeiro internacional mais inclusivo e resiliente, capaz de atender aos interesses de seus membros e de outros países em desenvolvimento que compartilham essa visão de um mundo mais equitativo. Por outro lado, a presença de Putin no Brasil para a cúpula levanta questões legais, considerando o mandado de prisão internacional emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), do qual o Brasil é signatário, embora haja debates sobre a aplicabilidade em território brasileiro devido a interpretações jurídicas e ao status de chefe de Estado. A dinâmica de poder e a influência dos Brics no cenário global continuam a ser um tema de intenso debate acadêmico e político. A propaganda russa, por vezes intensa, que envolve a figura de Putin e até ameaças veladas, como as que sugerem retaliação a quem ofender o país, adicionam uma camada de complexidade às relações diplomáticas e à percepção pública do bloco. Essa abordagem assertive da Rússia nos fóruns internacionais demonstra uma estratégia clara de projeção de poder e defesa de seus interesses nacionais, mesmo que isso gere controvérsias e receios em outros atores globais. O futuro da ordem mundial e o papel de blocos como os Brics na formação desse novo cenário global ainda estão em construção, com muitos desafios e oportunidades em jogo.