Morre Jaguar, Cartunista Fundador do Pasquim, aos 93 anos
Jaguar, cujo nome verdadeiro era Aldemir Martins, nos deixou aos 93 anos, marcando o fim de uma era para o humor e a crítica social no Brasil. Fundador de O Pasquim, um dos jornais mais influentes da contracultura brasileira durante a ditadura militar, Jaguar utilizou seu talento inigualável para satirizar o poder e defender a liberdade de expressão em tempos sombrios. Sua obra transcendeu as páginas do jornal, consolidando-se em livros, charges e exposições que continuam a inspirar gerações.A trajetória de Jaguar é intrinsecamente ligada à efervescência cultural e política do Brasil nas décadas de 1960 e 1970. O Pasquim, criado em 1969, tornou-se um símbolo de resistência ao regime autoritário, combinando humor ácido com denúncia social. Jaguar, ao lado de outros grandes nomes como Millôr Fernandes e Ziraldo, moldou a identidade do jornal, oferecendo um olhar crítico e irreverente sobre os costumes, a política e o cotidiano brasileiro. Seus traços marcantes e sua inteligência afiada o consagraram como um dos maiores cartunistas do país.Apesar de sua formação em direito, Jaguar abraçou a arte e o jornalismo como vocações, transformando sua visão de mundo em poderosas ferramentas de comunicação. Seus livros, como os que reúnem suas charges e suas crônicas, são testemunhos de seu perspicácia e de seu profundo conhecimento da alma humana. A sua capacidade de capturar as contradições da sociedade brasileira com um simples traço ou uma palavra certeira é um dom que poucos possuem e que o público sempre admirou. Sua atuação no Pasquim não foi apenas artística, mas também um ato de coragem cidadã.O desejo de Jaguar de ter suas cinzas espalhadas pelos bares que frequentou em vida revela a sua personalidade boêmia e sua profunda conexão com o ambiente que nutria sua criatividade e seu senso de comunidade. Essa singular despedida reflete a forma como ele viveu: intensamente, apreciando os prazeres simples da vida e compartilhando seu espírito livre com os amigos e admiradores. A memória de Jaguar perdurará não apenas em suas obras, mas também no impacto que causou na forma como o humor e a crítica social são vistos no Brasil, inspirando muitos a usar a arte como meio de transformação social e de questionamento das normas estabelecidas.