O assassinato de Odete Roitman, em 26 de dezembro de 1988, marcou para sempre a história da teledramaturgia brasileira. A novela “Vale Tudo”, escrita por Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, prendeu a atenção de milhões de telespectadores na expectativa pela revelação do assassino da odiada e admirada Odete Roitman. A trama soube criar um suspense envolvente, apresentando uma lista de suspeitos com motivos robustos, o que intensificou o debate nacional sobre quem poderia ser o culpado. Essa estratégia de marketing, ousada para a época, transformou a novela em um verdadeiro ‘Super Bowl brasileiro’, onde a audiência se mobilizava em teorias e apostas. A pergunta Quem matou Odete Roitman? ecoava em conversas familiares, no ambiente de trabalho e nas ruas, demonstrando o poder da ficção em gerar engajamento.

Os principais suspeitos foram cuidadosamente desenvolvidos para manter o público na dúvida. Personagens como Maria de Fátima (Gloria Pires), Helena (Renata Sorrah), Leila (Cassia Kis Magro), Afonso (Cássio Gabus Mendes) e Osmar (José de Abreu) possuíam fortes razões para desejar a morte da matriarca da família. As pistas eram plantadas de forma inteligente, ora incriminando um, ora outro, alimentando o mistério e a especulação. A própria emissora, a Rede Globo, capitalizou em cima do suspense, com ações de marketing que estimulavam a participação do público, incluindo enquetes e chamadas televisivas que criavam ainda mais expectativa. A imprensa da época dedicava espaço considerável para especular, e memes antecipados poderiam até mesmo ter surgido caso a internet existisse nos moldes atuais.

A resolução do mistério, com a revelação de que Odete Roitman foi assassinada por seu marido, Afonso, em legítima defesa após ser ameaçada, foi um desfecho que, para muitos, quebrou as expectativas criadas. No entanto, a genialidade da trama reside não apenas na solução do crime, mas na forma como ele foi construído. O suspense, os personagens complexos e a habilidade de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva em criar uma história que dialogasse tão intimamente com o público brasileiro são os verdadeiros legados de “Vale Tudo”. A novela abordou temas sociais relevantes como a ascensão social, a corrupção e a moralidade, contextualizando o assassinato dentro de um retrato multifacetado da sociedade brasileira da época.

O impacto cultural de “Vale Tudo” e do mistério de Odete Roitman persiste até hoje. A forma como a Globo transformou um enredo de novela em um evento nacional é estudada como um marco no marketing de massa e na criação de narrativas envolventes. O nome Odete Roitman se tornou sinônimo de vilã icônica, e a pergunta sobre seu assassino, uma referência cultural. Mesmo com o passar dos anos, a novela continua a ser revisitada, discutida e admirada, comprovando a força de uma história bem contada e a habilidade de mestres como Gilberto Braga em cativar e provocar o público, estabelecendo um novo patamar para a produção televisiva nacional e antecipando tendências de engajamento que vemos hoje nas redes sociais.