Major Curió, símbolo da repressão, morre 18 dias após ser intimado a depor
O Major Curió, cujo nome de batismo era Sebastião Curió, morreu em 2021, aos 87 anos. Sua partida ocorreu 18 dias após ter sido intimado pela Justiça Federal do Pará a prestar depoimento sobre torturas e assassinatos ocorridos durante a ditadura militar brasileira, especialmente em operações realizadas na Amazônia. Curió era conhecido por sua atuação repressiva, incluindo a participação na guerrilha do Araguaia, onde liderou operações que resultaram em mortes e desaparecimentos de opositores do regime. Sua figura é amplamente associada à violência e à violação dos direitos humanos perpetradas durante os anos de chumbo no país. A intimação para depor, mesmo após décadas, representava um passo importante na busca por memória, verdade e justiça para as vítimas do regime militar, em um processo que se estende por muitos anos no judiciário brasileiro e que enfrenta inúmeros obstáculos. A própria saúde debilitada do militar já era um fator conhecido, levantando questões sobre a eficácia de ações judiciais tardias em casos de graves violações de direitos humanos. A morte de Curió, nesse contexto, silenciou mais uma voz que poderia trazer esclarecimentos sobre um período sombrio da história brasileira, dificultando ainda mais o fechamento de capítulos dolorosos para as famílias dos perseguidos e para a sociedade como um todo. Este evento trouxe à tona a complexa relação entre a história, a justiça e a memória no Brasil, onde a responsabilização por crimes do passado ainda é um desafio persistente e um tema de intenso debate público e político. A forma como o Estado lida com as demandas por justiça de transição e a responsabilização de agentes do estado em regimes autoritários sempre gera discussões acaloradas sobre os limites da anistia e a necessidade de reparação às vítimas e seus familiares. A morte do Major Curió, nesse sentido, torna-se um símbolo da urgência em dar andamento a processos que buscam elucidar e confrontar o legado da ditadura militar. A comunidade de direitos humanos e familiares de anistiados políticos acompanham com atenção a continuidade dos processos que envolvem outros agentes do regime, na esperança de que a justiça, mesmo que tardia, possa ser efetivada. A história do Major Curió é emblemática dos conflitos e contradições que marcam a redemocratização brasileira e a busca por uma sociedade mais justa e transparente, que aprenda com os erros do passado para construir um futuro mais promissor. A decisão de intimá-lo, mesmo em idade avançada, refletiu a determinação de alguns setores da Justiça em investigar e, eventualmente, punir os responsáveis por crimes contra a humanidade, buscando assim honrar a memória das vítimas e fortalecer os pilares da democracia. A sua atuação no Pará, em especial, o tornou um nome associado à brutalidade e ao autoritarismo, e o processo judicial que culminou em sua intimação representava uma tentativa de trazer à luz os detalhes de suas ações e a extensão do sofrimento causado. A morte dele, 18 dias após ser notificado, levanta questionamentos sobre o tempo da justiça e a capacidade do sistema em lidar com casos tão complexos e sensíveis. O caso também destaca a importância da preservação da memória e do trabalho de organizações da sociedade civil que lutam pela documentação e divulgação dos crimes cometidos durante a ditadura, garantindo que esses eventos não sejam esquecidos ou relativizados.