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Barroso se despede da presidência do STF com samba e reflexões sobre democracia e futuro da Corte

A despedida de Luís Roberto Barroso da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcada por um evento singelo, mas carregado de simbolismo. Um samba entoado por representantes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) serviu como trilha sonora para um adeus que, embora festivo em sua forma, carregava a profundidade de quem esteve no centro do poder judiciário em um dos períodos mais turbulentos da história recente do Brasil. Barroso, que não esconde sua satisfação com o fim de sua gestão, fez questão de ressaltar que sua saída da presidência não implica um afastamento das discussões cruciais para o país, nem uma aposentadoria iminente das lides jurídicas e políticas. Sua atuação durante o biênio presidencial foi caracterizada por uma postura firme na defesa das instituições democráticas, num contexto de crescentes tensões e ataques ao sistema judicial e à própria Constituição.

Em suas últimas falas como presidente, Barroso não poupou críticas àqueles que, em sua visão, tentam minar a democracia brasileira. A frase “Quem teme ser preso está querendo briga, não pacificação” ecoou como um recado direto a grupos que, segundo ele, não aceitam o resultado eleitoral e buscam desestabilizar o país. Essa fala reflete a preocupação do ministro com o recrudescimento da polarização e a persistência de movimentos antidemocráticos. Ele aproveitou o momento para reforçar a importância da pacificação social, mas atrelada ao respeito irrestrito às leis e aos processos democráticos, sem anistia para aqueles que atentaram contra o Estado de Direito. A luta contra o que ele denominou “bolsonarismo” foi citada como uma vitória, mas com a ressalva de que a vigilância deve permanecer constante para que os valores democráticos sejam consolidados de forma perene.

O ministro também abordou o futuro do STF e a necessidade de que seus membros continuem a trilhar o caminho da independência e da imparcialidade. A sucessão na presidência representa um novo ciclo, e Barroso deixou claro que espera que seu sucessor mantenha o rigor e o compromisso com os princípios constitucionais que nortearam sua própria gestão. A ideia de “não se aposentar prontamente” sinaliza o desejo de permanecer contribuindo ativamente para o debate público e para a defesa do que ele entende por justiça. Sua carreira tem sido marcada por uma forte atuação na área de direito público e constitucional, com contribuições significativas para a consolidação de entendimentos do Supremo em temas como direitos fundamentais, controle de constitucionalidade e regulação estatal.

Ao deixar o cargo de presidente, Barroso não apenas encerra um capítulo de sua vitoriosa carreira jurídica, mas também reforça a imagem de um jurista engajado com a realidade brasileira. Sua despedida, em tom de samba, mas com palavras de ordem, demonstra a complexidade do momento atual, onde a celebração e a reflexão crítica precisam coexistir. A esperança de um futuro mais pacífico e democrático, aliada à certeza de que a luta pelos valores republicanos é contínua, resume o legado queBarroso busca deixar ao passar o bastão na presidência do STF e ao retornar à posição de ministro na Corte.