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Aterros do Rio: Aoshição das Praias e o Racismo Ambiental na Zona Norte Carioca

A expansão urbana do Rio de Janeiro ao longo dos séculos XX e XXI foi marcada por um ambicioso projeto de aterramento, que alterou drasticamente a paisagem litorânea da cidade. Essa intervenção, responsável pela criação de importantes áreas de lazer e desenvolvimento, como o Parque do Flamengo, também resultou na supressão de dezenas de praias, muitas delas localizadas na Zona Norte. Estudos recentes, como os destacados em matérias do O Globo, apontam que cerca de 56 praias desapareceram em decorrência desses aterros, levantando discussões sobre os impactos socioambientais e a equidade no desenvolvimento urbano carioca. O Parque do Flamengo, por exemplo, que comemora seus 60 anos, foi erguido em uma área antes ocupada pelo mar, reconfigurando a orla e a identidade da cidade. Histórias como a do desaparecimento da Praia Vermelha no Cosme Velho e a transformação de áreas da Zona Sul em importantes centros urbanos evidenciam a escala dessa mudança. A transformação de corpos d’água e áreas costeiras em terras firmes não foi um processo neutro. A análise crítica, como a apresentada por autores que estudam o tema, sugere que as consequências desses aterros foram sentidas de forma desigual. A Zona Norte, em particular, teria sido mais afetada pela perda de sua orla natural e pela concentração de aterramentos em detrimento de áreas mais valorizadas da Zona Sul ou Oeste. Essa disparidade levanta a hipótese de racismo ambiental, onde a segregação espacial e a falta de investimento em infraestrutura e preservação afetam desproporcionalmente comunidades mais pobres e historicamente marginalizadas, que muitas vezes dependiam dessas áreas naturais para lazer, subsistência e conexão cultural. A história dos aterros no Rio de Janeiro, portanto, transcende a mera modificação da geografia urbana; ela se entrelaça com narrativas de exclusão social, políticas de desenvolvimento excludentes e a necessidade de uma revisão crítica sobre como as cidades crescem e quem se beneficia desse crescimento. A perda de praias na Zona Norte, acompanhada pelo avanço de novas urbanizações em áreas antes alagadas ou marinhas, como a região onde hoje se encontra parte da Lapa, Saara e até o clube Flamengo, evidencia a necessidade de um planejamento urbano mais inclusivo e sustentável, que considere os direitos ambientais e sociais de todos os cidadãos. O legado dos aterros é complexo e exige uma análise aprofundada de seus impactos ambientais, sociais e raciais, para que futuras intervenções urbanas sejam pautadas pela justiça e pelo respeito ao meio ambiente e às comunidades afetadas.