Análise Crítica: Esquerda Iraniana e os Erros Históricos de 1979
A Revolução Iraniana de 1979, que destituiu o Xá Mohammad Reza Pahlavi, foi um marco complexo na história do Oriente Médio, com a esquerda desempenhando um papel significativo em sua fase inicial. No entanto, a ascensão do Aiatolá Ruhollah Khomeini ao poder e a subsequente instauração de um regime teocrático marcaram um ponto de virada, que muitos analistas consideram um erro estratégico fundamental da esquerda iraniana. As diferentes facções de esquerda, incluindo trotskistas, marxistas e outros grupos progressistas, inicialmente se uniram contra a monarquia, mas falharam em consolidar uma alternativa política robusta e secular. Essa divisão e a incapacidade de estabelecer um consenso sobre a futura estrutura do governo abriram caminho para a consolidação do poder por parte dos clérigos xiitas, que souberam explorar as fragilidades e os divisores dentro do campo revolucionário. Anos depois, a discussão sobre se a esquerda repete os mesmos equívocos de 46 anos atrás ressurge com força, especialmente diante de contextos políticos atuais que guardam semelhanças com o período pré-revolucionário, como a insatisfação popular generalizada com regimes autoritários ou a busca por mudanças profundas. A forma como a esquerda se posiciona diante de movimentos populares, alianças estratégicas e a defesa de princípios democráticos e laicos torna-se crucial para evitar a repetição de uma história onde suas aspirações foram suplantadas por forças conservadoras ou reacionárias. A análise dos discursos e posicionamentos de grupos de esquerda em diferentes contextos globais, como as menções a um suposto “esquerdismo de turbante” ou a defesa de certas agendas em detrimento de uma crítica mais abrangente a regimes autoritários, levanta questionamentos sobre a coerência ideológica e a capacidade de aprendizado histórico. A complexidade da situação iraniana, passada e presente, exige um olhar atento às nuances das alianças, às dinâmicas de poder e à evolução das ideologias em cenários de profunda transformação social e política. A crítica a regimes autoritários, sejam eles de direita, esquerda ou de natureza teocrática, deve ser um pilar inegociável para qualquer movimento que almeje a verdadeira liberdade e justiça social.