A inauguração do trecho Norte do Rodoanel Mario Covas, em São Paulo, realizada na última semana, foi marcada por uma acirrada troca de farpas entre o governador do estado, Tarcísio de Freitas, e o ex-ministro da Educação e atual presidente do BNDES, Fernando Haddad, que representou o governo federal no evento. Em um cenário de disputas políticas e legados em contraponto, o discurso de ambos os políticos refletiu as divergências ideológicas e as visões distintas sobre o desenvolvimento e a gestão de obras públicas no Brasil. A obra, que teve seu início há mais de uma década, representou um marco histórico para a mobilidade urbana e logística do estado paulista, mas sua entrega serviu de palco para um embate que transcendeu a infraestrutura e adentrou o campo da política partidária.

Tarcísio de Freitas, ao discursar na cerimônia, fez questão de ressaltar a importância da obra para a região e destacou o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro em sua gestão, aludindo a um período de maior eficiência e compromisso com a população. Em contrapartida, o governador aproveitou a oportunidade para criticar o que chamou de “corrupção” em obras viárias, uma crítica velada aos governos anteriores, incluindo o período em que Haddad e o PT estiveram no poder. Essa narrativa buscou deslegitimar a gestão petista e reforçar a imagem de seu próprio governo como um agente de mudança e retidão.

Fernando Haddad, por sua vez, ao ser anunciado e subir ao palco, foi recebido com vaias por parte da audiência, em um claro sinal de polarização política. Em seu pronunciamento, o presidente do BNDES fez questão de elogiar o governo federal liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, enfatizando os investimentos e as políticas públicas implementadas. A resposta de Haddad às críticas implícitas de Tarcísio procurou defender o legado do PT e apresentar o governo atual como um promotor de projetos de grande escala e impacto social, buscando desassociar seu nome de escândalos passados e fortalecer a imagem de continuidade e progresso.

A inauguração do trecho Norte do Rodoanel, esperado por mais de 13 anos, representa a conclusão de um projeto de infraestrutura crucial para o escoamento de cargas e o tráfego de veículos na região metropolitana de São Paulo. A obra, com cerca de 47 quilômetros, promete otimizar o fluxo de veículos, reduzir o tempo de viagem e melhorar a conectividade entre diversas rodovias importantes, como a Ayrton Senna, Carvalho Pinto, Presidente Dutra e Fernão Dias. Apesar dos avanços trazidos pela nova via, o evento serviu, paradoxalmente, para evidenciar as profundas divisões políticas que marcam o cenário brasileiro, onde até mesmo a entrega de uma obra de engenharia vira palco para debates sobre corrupção, legado e escolhas ideológicas.