O desaparecimento e posterior ressurgimento de Odete Roitman, personagem interpretada magistralmente por Beatriz Segall na novela Vale Tudo, continua sendo um dos enigmas mais fascinantes da televisão brasileira e um marco na história das tramas televisivas. Acreditada por muitos como morta após um tiroteio no meio de uma discussão acalorada na porta da igreja, a personagem retorna de forma surpreendente, desmentindo até mesmo a própria cena de sua suposta morte. Esse plot twist, que desafiou convenções narrativas e a própria lógica, deixou o público perplexo e gerou um burburinho que perdura até hoje, alimentando discussões sobre a genialidade do roteiro e a capacidade de surpreender do autor Gilberto Braga. A trama de Vale Tudo, exibida originalmente em 1988 e reapresentada diversas vezes, já se destacava pela sua modernidade e pelas críticas sociais afiadas que apresentava, abordando temas como corrupção, ética e a busca desenfreada pelo sucesso a qualquer custo, encarnada pela icônica vilã Odete Roitman. Entretanto, o retorno da personagem após o confronto armado, alegando ter sido resgatada e cuidada por um grupo desconhecido, adicionou uma camada de mistério e até de humor negro à narrativa, gerando a famosa frase “Quem matou Odete Roitman?”. Essa pergunta, que se tornou um bordão nacional, evidencia a força do roteiro e a habilidade de Braga em criar suspense e engajamento com a audiência, transformando a novela em um fenômeno cultural de proporções épicas e inesquecíveis. A contextualização desse evento dentro da obra se dá pela própria natureza de Odete Roitman: uma mulher poderosa, influente e capaz de orquestrar os mais complexos planos para manter seu status e se livrar de inimigos. Sua “morte” e subsequente ressurgimento podem ser interpretados como uma metáfora para a resiliência e a astúcia de uma personagem que se recusa a ser derrotada, mesmo diante de situações extremas. A reviravolta, embora criticada por alguns por quebrar a verossimilhança estabelecida, serviu para intensificar o mistério e manter os telespectadores presos à tela, ansiosos por desvendar quem estava por trás desse grande plano. As teorias sobre quem auxiliou Odete Roitman a forjar sua morte e a se recuperar foram inúmeras, passando por personagens secundários a teorias conspiratórias envolvendo figuras não apresentadas na trama. A falta de uma explicação concreta e definitiva por parte da produção apenas contribuiu para a aura lendária em torno do evento. O que ficou claro é que Gilberto Braga soube jogar com as expectativas do público, utilizando um artifício narrativo audacioso para manter a chama da novela acesa e gravá-la para sempre na memória afetiva dos brasileiros, consolidando ainda mais o legado de Vale Tudo como um divisor de águas na teledramaturgia nacional e na figura de sua antagonista principal.