Um marco preocupante na saúde global foi revelado por um relatório recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Pela primeira vez na história, a obesidade infantil supera a desnutrição entre crianças e adolescentes em idade escolar em escala mundial. Essa inversão de quadro, que reflete uma crise nutricional complexa e multifacetada, exige atenção urgente de governos, instituições de saúde e da sociedade como um todo. O relatório destaca que essa dupla carga da má nutrição – convivência entre desnutrição e excesso de peso – está se tornando cada vez mais prevalente, comprometendo o desenvolvimento físico e cognitivo de milhões de jovens ao redor do planeta.

As causas para essa mudança são diversas e interligadas. A urbanização crescente, a maior disponibilidade de alimentos ultraprocessados ricos em açúcar, gordura e sódio, e a diminuição da prática de atividades físicas são fatores cruciais nesse cenário. A pandemia de COVID-19 também pode ter exacerbado a situação, com o fechamento de escolas e a limitação de espaços de lazer, levando a um aumento do sedentarismo e a uma maior dependência de alimentos de baixa qualidade nutricional, muitas vezes mais acessíveis e convenientes. A publicidade agressiva de alimentos não saudáveis, especialmente direcionada ao público infantil, é outro elemento a ser considerado nessa equação complexa.

Diante deste quadro alarmante, especialistas em nutrição e saúde pública enfatizam a necessidade de ações coordenadas. Políticas que promovam o acesso a alimentos saudáveis e acessíveis, a regulamentação da publicidade de alimentos para crianças, e a implementação de programas de educação nutricional nas escolas e comunidades são essenciais. Além disso, incentivar um estilo de vida ativo, com mais oportunidades para brincadeiras ao ar livre e práticas esportivas, é fundamental para reverter essa tendência. A conscientização dos pais e cuidadores sobre a importância de rótulos nutricionais claros e informativos também desempenha um papel vital nas escolhas alimentares das famílias.

A superação da desnutrição pela obesidade em crianças e adolescentes em todo o mundo é um sinal claro de que os sistemas alimentares atuais precisam de uma reforma profunda. É imperativo repensar a forma como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos, priorizando a saúde e o bem-estar das futuras gerações. O Unicef reforça que combater essa dupla carga da má nutrição requer um compromisso global e ações sustentáveis em todos os níveis para garantir um futuro mais saudável para todas as crianças.