A convocação de uma reunião virtual por parte do presidente Lula para os líderes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sinaliza uma articulação estratégica do bloco em um momento de significativas turbulências no comércio internacional. O principal mote da agenda é o fortalecimento das relações comerciais e econômicas entre os países membros, visando criar mecanismos de maior resiliência frente a políticas protecionistas de outras potências. Este movimento é interpretado como uma tentativa de diversificar parcerias e reduzir a dependência de mercados tradicionais, especialmente diante do que tem sido chamado de “tarifaço de Trump”, referindo-se às tarifas de importação que os Estados Unidos têm implementado em diversos setores. Essa política tem o potencial de desestabilizar cadeias produtivas globais e impactar de forma significativa as economias emergentes, como as que compõem o BRICS. A iniciativa brasileira busca, portanto, consolidar um bloco mais coeso e autônomo no cenário econômico mundial. O fortalecimento do comércio dentro do grupo poderia se manifestar através de acordos tarifários mais vantajosos, facilitação de investimentos recíprocos e a criação de instrumentos financeiros que promovam a liquidez e a estabilidade entre os membros, reduzindo o impacto de sanções ou tarifas externas. A discussão sobre a reforma da OMC também é um ponto crucial, pois o bloco visa readequar as regras do comércio global para torná-las mais justas e representativas das economias emergentes, questionando a estrutura de governança atual que, na visão de muitos, favorece países desenvolvidos. Esta proposta de reforma pode envolver desde a agilização dos mecanismos de solução de controvérsias até a inclusão de novas regras que reflitam as realidades econômicas atuais, como o comércio digital e a sustentabilidade ambiental. O contexto em que esta cúpula ocorre adiciona uma camada de complexidade, com o próprio Brasil vivenciando um período político em que o julgamento de práticas de governos anteriores está em andamento. No entanto, o foco principal da reunião se volta para a conjuntura internacional, demonstrando a prioridade dada à articulação diplomática e econômica em um cenário global cada vez mais imprevisível. A capacidade do BRICS de apresentar uma frente unida e propositiva será um teste importante para a sua relevância e capacidade de influenciar a reconfiguração da ordem econômica global.