Economistas Elevam Previsão do PIB e Reduzem Inflação em 2024, Mas Preços Administrados Preocupam
O mercado financeiro revisou para cima a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024, indicando um cenário mais otimista para a economia brasileira. Paralelamente, a previsão para a inflação neste ano foi reduzida pela sexta semana consecutiva, segundo o Boletim Focus, uma publicação de referência que compila as projeções de centenas de economistas. Essa combinação de fatores sugere um ambiente de maior expansão econômica acompanhada por uma pressão menor sobre os preços ao consumidor. A expectativa atual para a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), projeta um resultado abaixo da meta contínua, algo que não ocorria há algum tempo. Essa desaceleração inflacionária é atribuída a uma conjunção de políticas monetárias restritivas mantidas pelo Banco Central, efeito da safra agrícola robusta e uma demanda interna mais moderada em alguns setores. A meta de inflação do governo brasileiro é de 3%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Portanto, um IPCA abaixo de 4,5% seria considerado dentro da meta contínua, o que se alinha com as projeções atuais.
No entanto, o otimismo com a inflação geral não se estende uniformemente a todos os componentes do índice. Uma análise mais aprofundada revela que os chamados preços administrados, aqueles que são controlados ou influenciados por decisões governamentais, como tarifas de energia elétrica, combustíveis e transporte público, tiveram sua projeção de aumento revisada para cima em 2025. A expectativa passou de 4,30% para 4,36%, um acréscimo modesto, mas que sinaliza a persistência de pressões inflacionárias em setores específicos da economia. Esses preços administrados representam uma parcela significativa do orçamento das famílias e sua trajetória pode impactar a percepção de inflação e o poder de compra, mesmo que a inflação corrente esteja sob controle em outras áreas. A gestão desses preços é um desafio constante para a política econômica, exigindo equilíbrio entre a necessidade de repassar custos e o impacto social e inflacionário.
A redução da projeção da inflação geral para 5,18% pelo mercado financeiro reflete a eficácia da política monetária em conter pressões de demanda e em ancorar as expectativas futuras. A taxa Selic, principal instrumento de controle inflacionário, tem sido mantida em patamares elevados, embora o ciclo de cortes tenha se iniciado, mantendo um viés de cautela. Essa postura do Banco Central é fundamental para garantir a credibilidade de suas metas e para evitar a desancoragem das expectativas de inflação, um fator crucial para a estabilidade econômica de longo prazo. A expectativa de um PIB mais forte em 2024, por sua vez, sugere que a economia brasileira está ganhando tração, impulsionada por setores como o agronegócio e possivelmente pela retomada do investimento, embora a influência de fatores externos, como o cenário global e as taxas de juros internacionais, continue sendo um ponto de atenção. A sustentabilidade desse crescimento dependerá da capacidade do país de manter a disciplina fiscal e de avançar em reformas estruturais.
Ainda que as projeções para este ano apontem para um cenário econômico mais favorável, com a inflação sob controle e crescimento do PIB acima do esperado, a dinâmica dos preços administrados em projeções futuras levanta questões sobre a sustentabilidade dessa melhora. A capacidade do governo de gerenciar esses preços de forma eficiente, sem gerar choques inflacionários ou ônus excessivos para as contas públicas, será um dos grandes desafios nos próximos anos. A análise integrada desses indicadores econômicos é essencial para a tomada de decisões de política econômica e para a formação de expectativas por parte dos agentes econômicos, permitindo uma compreensão mais completa do cenário e dos riscos envolvidos na trajetória da economia brasileira.