Dermatologista transformou tratamento contra hanseníase após ser diagnosticado com a doença; conheça

Marco Andrey Cipriani Frade, de 55 anos, é presidente da Associação Brasileira de Hansenologia. No ‘Janeiro Roxo’, ele aborda novas perspectivas de diagnóstico, tratamento e prevenção da infecção. Médico e professor renomado aborda a hanseníase no ‘Janeiro Roxo’
O médico Marco Andrey, professor titular de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) da USP e presidente da Associação Brasileira de Hansenologia, é um dos responsáveis por redefinir as formas de diagnóstico e tratamento contra a hanseníase.
Em entrevista ao g1 durante o “Janeiro Roxo”, mês de combate à doença, ele compartilhou sua trajetória dedicada à luta contra a hanseníase, principalmente após contrair a infecção.
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Quando Marco foi diagnosticado com hanseníase, já era um médico experiente, especializado em dermatologia. No entanto, a doença lhe trouxe uma nova perspectiva.
Ele percebeu a importância de focar não apenas nas lesões de pele, mas também nas manifestações neurológicas, com o objetivo de garantir diagnóstico precoce e melhores resultados para os pacientes.
“Recebi um tratamento mais simples, mas percebi que o ideal seria um tratamento mais robusto, que englobasse tanto as lesões de pele quanto os sintomas neurológicos”, conta.
Ele destaca a dificuldade inicial em conseguir um diagnóstico correto, com sintomas discretos como formigamento e dormência nas extremidades, que muitas vezes eram desconsiderados pelos profissionais.
“Quando comecei a sentir os primeiros sintomas, como a dormência, o diagnóstico foi negligenciado por colegas. Não era visto como uma prioridade”, relembra.
Este atraso no diagnóstico o motivou a investigar mais profundamente a doença, especialmente os aspectos neurológicos da hanseníase, que muitas vezes são ignorados.
Médico e professor dermatologista no Congresso Brasileiro de Hansenologia em Cuiabá, MT
Foto: Acervo Marco Andrey Cipriani Frade
Mudança de paradigma no tratamento da hanseníase
A experiência pessoal o levou a questionar as abordagens tradicionais no tratamento da hanseníase. De acordo com ele, a doença vai além das lesões de pele e pode afetar os nervos periféricos, causando sintomas como dor, formigamento e perda de sensibilidade. Ele enfatiza a importância de tratar essas manifestações logo no início, evitando complicações.
“Eu sempre fui um defensor da ideia de que a hanseníase precisa ser tratada de forma mais ampla. Quando comecei a trabalhar com isso, busquei focar no diagnóstico precoce, não só para curar as lesões, mas para prevenir danos neurológicos irreversíveis”.
Ele lidera atualmente o Centro Nacional de Referência em Hanseníase, onde desenvolveu e implementou ferramentas de diagnóstico, como um questionário de suspeição para detectar a doença em estágios iniciais, mesmo quando não há lesões visíveis na pele.
Conscientização e a importância do diagnóstico precoce
Andrey também destaca a importância da conscientização sobre a hanseníase e a busca por um diagnóstico precoce. Ele acredita que muitos pacientes só chegam ao tratamento quando já apresentam complicações graves, devido ao preconceito e à falta de informação.
“A hanseníase ainda é uma doença muito estigmatizada. Muitas pessoas não se veem doentes até que a condição se agrave, e muitas vezes, o diagnóstico vem tarde demais”.
A hanseníase pode ser tratada com antibióticos quando diagnosticada precocemente, mas se o tratamento for iniciado tardiamente, o paciente pode sofrer sequelas permanentes, como lesões nos nervos, que podem afetar a mobilidade e a sensibilidade.
Redefinindo o tratamento da hanseníase
A experiência pessoal de Marco, não só redefiniu sua abordagem clínica, mas também impulsionou a criação de programas de treinamento para profissionais da saúde.
Ele ministra cursos e palestras voltados para médicos e outros especialistas, destacando a importância de identificar os sintomas iniciais, como alterações neurológicas discretas, que podem ser um sinal precoce da doença.
“Nos treinamentos, reforçamos que a hanseníase precisa de um diagnóstico precoce e de uma abordagem integral, que vá além das lesões cutâneas e previna complicações neurológicas irreversíveis”, destaca.
Marco Andrey fazendo ações de treinamento em Muzambinho, MG
Foto: Acervo Marco Andrey Cipriani Frade
Janeiro Roxo
A campanha “Janeiro Roxo” e a iniciativa “Todos Contra Hanseníase” têm sido uma ferramenta importante para aumentar a conscientização sobre a doença, mas Marco acredita que a luta deve continuar durante o ano inteiro.
“É fundamental que a discussão sobre a hanseníase não se limite a um único mês. A conscientização precisa ser contínua, porque o diagnóstico precoce é o maior desafio”.
Ele lembra que a campanha tem o objetivo de quebrar o preconceito em torno da doença.
Campanha Janeiro Roxo ‘Todos Contra Hanseníase’ sensibiliza motoristas na rodovia da região de Ribeirão Preto, SP
Foto: Câmeras de Segurança das Rodovias
Entenda o que é a doença, quais são seus sintomas, como pode ser diagnosticada, como funciona o tratamento e o que fazer para se prevenir. Veja abaixo:
O que é a hanseníase?
Quais são os principais sintomas?
Como a hanseníase pode ser diagnosticada?
Qual é o tratamento?
Como prevenir a hanseníase?
O que é a hanseníase?
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Ela afeta principalmente a pele, nervos periféricos, vias respiratórias e os olhos. Seus sintomas iniciais podem ser discretos, como formigamento, dormência e manchas na pele.
Quais são os principais sintomas?
Os sintomas iniciais incluem alterações na pele, como manchas que podem ser descoloridas, e sensações de formigamento ou dormência nas extremidades, como dedos ou mãos.
Marco enfatiza que a hanseníase pode afetar o sistema nervoso periférico, causando dores e perda de sensibilidade, antes mesmo das lesões visíveis na pele.
“Eu senti dormência e formigamento antes das lesões de pele, mas na época, esses sintomas foram negligenciados, o que atrasou meu diagnóstico.”
Como a hanseníase pode ser diagnosticada?
O diagnóstico da hanseníase é clínico e pode ser feito a partir dos sintomas apresentados pelo paciente. O médico observa as lesões na pele e os sinais neurológicos, como a perda de sensibilidade em determinadas áreas do corpo. A identificação precoce é crucial, pois, quanto mais rápido o tratamento, menores são as chances de sequelas graves.
Durante entrevista, Andrey destacou a importância de ferramentas como o questionário de suspeição de hanseníase para auxiliar no diagnóstico precoce, especialmente em casos onde as lesões ainda não estão visíveis.
Qual é o tratamento?
O tratamento da hanseníase é realizado com antibióticos que devem ser administrados por um período de 6 meses a 2 anos, dependendo da forma da doença.
Marco Andrey defende que a abordagem terapêutica deve ir além das lesões cutâneas e incluir o tratamento das manifestações neurológicas, prevenindo complicações como danos permanentes aos nervos.
“A hanseníase precisa ser tratada de forma mais robusta, com atenção tanto à pele quanto ao sistema nervoso periférico. Diagnóstico precoce é fundamental.”
Como prevenir a hanseníase?
A prevenção da hanseníase envolve o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais da doença, principalmente em áreas endêmicas, e a conscientização da população é essencial para reduzir o estigma e incentivar as pessoas a buscarem ajuda médica assim que notarem sintomas.
Ele afirma que é fundamental lembrar que a hanseníase tem cura, mas para isso, é preciso diagnosticá-la a tempo.
“Só o conceito destrói o preconceito. Quando a pessoa entende que pode tratar e curar a hanseníase, ela procura ajuda antes que o dano seja irreversível.”
Pacientes com hanseníase na ação de treinamento em Tambaú, SP
Foto: Acervo Marco Andrey Cipriani Frade
*Sob a supervisão de Helio Carvalho
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