Gaza é a maior mancha no legado de Biden

Para milhões de palestinos, presidente americano e seu secretário de Estado entrarão para a história como coniventes com o que muitos classificam como crimes contra a humanidade O humilhante processo de retirada do Afeganistão marcou a queda irreversível da popularidade de Joe Biden entre os norte-americanos. No exato momento que o Taleban retorna ao poder em agosto de 2021, mais eleitores passam a desaprova do que a aprovar a administração do democrata. O episódio reverteu uma tendência dos seus primeiros meses no poder depois de ter vencido o então incumbente Donald Trump por cerca de 4,5% no voto popular. A imagem do presidente que deixará a presidência amanhã passou a ser a de um líder fraco e incompetente em política externa.
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Importante, antes de prosseguir, deixar claro que a imensa maioria dos norte-americanos defendia a retirada do Afeganistão depois de duas décadas de conflito e trilhões gastos na tentativa de erguer um governo e um Exército afegão. Mas as ações militares dos EUA, iniciadas ainda no governo de George W. Bush depois do 11 de Setembro em resposta ao Taleban dar guarida à al-Qaeda, começaram a naufragar ainda em 2003, quando o país começou a priorizar a Guerra do Iraque. O retorno do Taleban era inevitável e o próprio Trump negociou com o grupo extremista a retirada norte-americana no seu último ano de mandato.
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O problema, portanto, não foi a decisão de se retirar e sim a forma humilhante da retirada. Meses depois, já em 2022, a Rússia ignorou as advertências dos EUA e invadiu a Ucrânia. Naquele primeiro momento, o governo Biden recomendou a Volodymyr Zelensky a se retirar de Kiev. O presidente ucraniano ignorou e decidiu resistir. Apenas depois disso que o presidente norte-americano articulou uma ampla coalizão para ajudar a Ucrânia a se defender.
Assim como no caso do Afeganistão, a questão ucraniana antecedia a Biden. A Rússia desde 2008, na Guerra da Geórgia, vinha entrando em atrito com o Ocidente por causa da ameaça de expansão da Otan. No governo Obama, anexou a Crimeia a passou a apoiar separatistas no leste da Ucrânia. A questão, no entanto, é que a invasão formal ocorreu durante o governo Biden, que mais uma vez passou uma imagem inicial de fragilidade e incompetência, embora posteriormente o líder norte-americano tenha conseguido fortalecer a Otan e evitar a queda do governo de Zelensky em Kiev.
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No ano seguinte, em 2023, o Hamas lançou o ataque terrorista contra Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando outras 240. O atentado está dentro do contexto do conflito entre palestinos e israelenses e talvez não houvesse nada que Biden pudesse fazer para evitar. Mas a guerra iniciada com a resposta de Israel para sempre marcará o presidente norte-americano por seu apoio incondicional ao governo de Benjamin Netanyahu.
Ao todo, 45 mil palestinos morreram, sendo a maioria civil, incluindo milhares de crianças inocentes. Bombardeios destruíram a maior parte das edificações do território e grande parte da população foi forçada a deixar suas casas. Ao longo primeiros seis meses do conflito, Biden se recusou a defender um cessar-fogo e vetou uma série de resoluções nas Nações Unidas. Apenas a partir de maio do ano passado passou a aceitar o fim da guerra, mas sempre fazendo concessões a Netanyahu. A trégua ocorre apenas agora, um dia antes do fim do seu mandato, graças à pressão de Trump sobre o primeiro-ministro israelense. Caso contrário, o conflito provavelmente prosseguiria.
Para milhões de palestinos e defensores dos palestinos ao redor do mundo, Biden e seu secretário de Estado Anthony Blinken entrarão para a história como coniventes com o que muitos classificam como crimes contra a humanidade – alguns, como a Anistia Internacional e países como a África do Sul, a Irlanda e o presidente Lula do Brasil definem como genocídio, uma acusação que ainda está em julgamento no Tribunal Penal Internacional de Haia. Israel e os EUA rejeitam a acusação e dizem que os israelenses estavam no direito de se defender de um atentado terrorista e a culpa seria do Hamas por se esconder no meio da população civil.
Afeganistão, Ucrânia e Gaza sempre marcarão Biden, assim como Iraque marcou Bush e o Irã marcou Carter.

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