Afastado do cargo após tentar impor lei marcial, Yoon se tornou na semana passada o primeiro chefe de Estado do país a ser detido na História Um tribunal sul-coreano prorrogou neste sábado a prisão do presidente Yoon Suk Yeol, sob a justificativa de temer que o líder destituído possa destruir provas enquanto as autoridades investigam se sua intenção frustrada de impor uma lei marcial — que restringia direitos civis e fechava o Congresso — configuraria uma insurreição. A medida levou ao afastamento de Yoon do cargo e mergulhou o país em uma profunda crise política, trocando o presidente em exercício duas vezes desde então.
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Após o anúncio da decisão, manifestantes furiosos quebraram janelas do tribunal, localizado no oeste de Seul, e invadiram o local, conforme mostraram imagens transmitidas ao vivo. Dezenas de milhares de manifestantes — 44 mil, segundo a polícia —, entoando slogans de apoio a Yoon e carregando cartazes com frases como “Libertem o presidente”, se reuniram em frente ao tribunal. Alguns chegaram a entrar em confronto com a polícia.
— Preocupa o fato de que o suspeito possa destruir provas — justificaram os juízes ao explicar a decisão de não libertar o chefe de Estado.
Apoiadores de Yoon reunidos do lado de fora do tribunal em Seul
AFP
Quarenta manifestantes foram presos por agressão física a agentes, ataques a jornalistas ou tentativas de invadir o tribunal, entre outros delitos, informou um oficial da polícia de Seul à AFP.
Yoon compareceu ao tribunal neste sábado e falou por 40 minutos, segundo a agência de notícias Yonhap. Seu advogado, Yoon Kab-keun, afirmou à AFP que o presidente queria “restaurar sua honra” perante os juízes, explicando-se e respondendo detalhadamente sobre os fatos, provas e questões legais. A audiência durou cerca de cinco horas e terminou por volta das 18h50 do horário local. Yoon deixou o tribunal em uma van azul do Ministério da Justiça rumo ao centro de detenção de Seul, onde está preso.
Com a prorrogação de sua detenção, o tribunal concedeu mais tempo aos promotores para formalizar a acusação por insurreição. Yoon pode ser sentenciado à pena de morte ou prisão perpétua caso seja condenado, já que o crime não é coberto por imunidade presidencial.
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Na semana passada, Yoon se tornou o primeiro chefe de Estado em exercício do país a ser preso, após uma tensa operação que levou a confrontos entre agentes e a guarda presidencial. A ordem judicial, inicialmente, tinha validade de apenas dois dias e carecia de renovação. Durante seu depoimento aos investigadores, Yoon permaneceu em silêncio.
Contexto da prisão
Yoon havia resistido à prisão desde a sua curta tomada de poder, ignorando as convocações para interrogatório. Desde o início de dezembro, ele estava confinado em sua residência no centro de Seul, e resistindo à prisão com a ajuda da guarda presidencial e de milhares de partidários que se reuniam do lado de fora da sua residência, agitando bandeiras da Coreia do Sul.
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Yoon, que antes de se tornar presidente era um promotor que fez fama com a bandeira anti-corrupção, foi finalmente preso na quarta-feira passada, 12 dias depois de uma primeira tentativa fracassada das autoridades de entrarem na sua “fortaleza” . Na ocasião, 200 funcionários de segurança presidencial formaram barricadas humanas para repelir 100 agentes da polícia que tentavam cumprir a ordem de prisão.
Após a primeira tentativa, em 3 de janeiro, membros armados dos serviços de segurança intensificaram a segurança na residência, instalando arame farpado ao redor do complexo e bloqueando algumas rotas de acesso com barricadas de ônibus. Para ter sucesso na segunda vez, investigadores mobilizaram mil agentes, incluindo unidades especializadas.
Afastamento e substituição
Yoon foi suspenso da Presidência pelo Parlamento, mas cabe ao Tribunal Constitucional confirmar ou não sua destituição definitiva do cargo. No projeto de impeachment, os parlamentares da oposição argumentaram que Yoon cometeu insurreição ao declarar lei marcial e enviar tropas para a Assembleia Nacional. Eles afirmaram que isso foi uma tentativa de impedir que os parlamentares votassem contra o decreto, como era seu direito segundo a Constituição.
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O tribunal decidirá dentro de 180 dias se Yoon é culpado dos crimes de que foi acusado pela Assembleia Nacional e, em caso afirmativo, se são graves o suficiente para justificar seu afastamento. Se o tribunal o destituir formalmente, a Coreia do Sul deverá realizar eleições para um novo líder dentro de dois meses.
Enquanto isso, Choi Sang-mok, o ministro das Finanças, é presidente interino sem real peso político. Ele foi nomeado em 27 de dezembro, depois que o primeiro-ministro Han Duck-soo, que estava atuando como interino após o impeachment de Yoon, foi ele próprio destituído pelos legisladores em um impasse sobre a nomeação de juízes para o tribunal que decidirá o destino de Yoon.
Yoon prometeu lutar no tribunal para recuperar seu poder. Em um discurso gravado divulgado logo após seu impeachment, Yoon listou o que considerava suas conquistas como presidente, incluindo seus esforços para fortalecer os laços militares com os Estados Unidos e o Japão. Agora, seus esforços foram interrompidos, disse ele.
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