Biden e Trump correm para viabilizar o acordo entre Israel e Hamas e levar o crédito pelo cessar-fogo

Posse do novo presidente dos EUA e a pressão sobre o premiê Netanyahu aceleram a rodada final de negociações, que o atual governo dos EUA tenta emplacar, sem sucesso, há oito meses. Trump e Biden
Saul LOEB, Elijah Nouvelage / AFP
Os termos do acordo para o cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns, que Israel e Hamas pretendem assinar, são os mesmos que foram propostos pelo governo Biden e estavam desde maio sobre a mesa de negociações.
O que muda agora é o timing — a posse do presidente dos EUA, na próxima segunda-feira — e a eficácia da pressão que Donald Trump exerceu sobre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
O futuro presidente despachou para Doha, no Catar, Steven Witkoff, seu enviado para o Oriente Médio, com o objetivo de destravar o impasse para um cessar-fogo e forçar o premiê a ceder às exigências que ele alegava serem intransponíveis junto aos representantes de Joe Biden: primeiro, a perseguição da vitória total sobre o Hamas; depois, a manutenção das tropas israelenses no Corredor Filadélfia, uma zona-tampão entre a Faixa de Gaza e o Egito.
Empresário do ramo imobiliário da Flórida e sem experiência no campo diplomático, Witkoff está habituado a resultados rápidos. Convocou Netanyahu para uma reunião no sábado, dia de descanso para os judeus, em Jerusalém, e depois voltou para Doha.
Na semana passada, Trump ameaçou o Hamas, prometendo que o grupo terrorista conheceria o inferno se os reféns não fossem libertados até o dia 20.
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Enquanto isso, Biden corria por fora, acelerando as negociações, para demarcar o seu legado no Oriente Médio, antes de deixar o cargo. O presidente americano antecipou a iminência de um acordo, como fez, sem sucesso, em outras ocasiões:
“Estamos prestes a concretizar a proposta que apresentei em detalhes meses atrás. Com muitos anos de vida pública, aprendi a nunca, nunca desistir.”
Num gesto raro, tanto Biden como Trump enviaram seus representantes às negociações para a trégua e devolução dos reféns mantidos pelo Hamas há 467 dias. Ambos tentarão levar o crédito caso o acordo se concretize e imagens do retorno dos primeiros reféns a Israel sejam divulgadas antes de segunda-feira.
Se as negociações fracassarem na última hora, Biden terá Trump para dividir a responsabilidade.
O atual presidente propôs, em maio, um plano de cessar-fogo em etapas, costurado com Israel, mas esbarrou na resistência de Netanyahu, pressionado pelos membros radicais de sua coalizão.
Contrário ao fim dos combates, um dos expoentes da extrema-direita do governo, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, disse claramente que conseguiu frustrar as tentativas anteriores de acordo de cessar-fogo com o Hamas.
O ministro tenta novamente exercer pressão sobre o premiê, ameaçando abandonar a coalizão e derrubar o governo, mas Netanyahu, ao que tudo indica, conseguiu novos apoios internos para prosseguir com a perspectiva da trégua.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir
REUTERS/Violeta Santos Moura
Se o acordo vingar, como expressam as partes com a habitual cautela, na primeira fase, o Hamas libertará 33 reféns – três por vez -, entre mulheres, crianças, idosos e feridos. Em troca, Israel soltará 30 prisioneiros palestinos para cada refém civil e 50 para cada militar. Estima-se que mais de mil serão libertados.
Neste período, os combates cessarão. Após o 16º dia, começa a segunda fase, prevista para durar 42 dias, e considerada a mais frágil. É criticada pelos parentes das vítimas, que temem que os reféns que permanecerem em Gaza, sirvam de escudo para o grupo terrorista obter novas concessões.
A segunda etapa prevê que o Hamas liberte os reféns homens restantes, em troca de um número ainda a ser negociado de prisioneiros palestinos e a retirada total das tropas do território, segundo um rascunho obtido pela agência de notícias Associated Press.
Os planos para a administração e a reconstrução de Gaza, ainda indefinidos, ficam para a terceira fase, juntamente com a devolução de corpos de combatentes dos dois campos.
A ansiedade pelo acordo mobiliza a sociedade israelense, conforme mostraram manifestações favoráveis em maior número, e contrárias ao cessar-fogo.
Conforme ponderou o Amos Harel, analista militar do jornal “Haaretz”, este é um preço alto, mas inevitável para começar o processo para libertar os reféns. E a mudança de presidente nos Estados Unidos, sem dúvida, empurrou o resistente Netanyahu para a rodada final das negociações.

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