Árvore das ‘orelhas-de-macaco’ revela estratégia única para sobreviver a climas extremos

Nome popular da espécie faz referência ao formato peculiar dos frutos, que lembram o contorno de uma orelha ou um rim. Fruto da timbaúva é conhecido popularmente como orelha-de-macaco por conta do formato que lembra o contorno de uma orelha
Fernanda Machado/TG
Na natureza, algumas árvores chamam a atenção pelo tamanho, outras pela beleza, ou até pelos frutos inusitados. A timbaúva (Enterolobium contortisiliquum) consegue combinar todos esses atributos e ainda se destacar como uma espécie de grande valor ecológico e cultural.
Popularmente conhecida como a árvore das “orelhas-de-macaco”, em referência ao formato curioso de seus frutos semilenhosos, que lembram o contorno de uma orelha ou até mesmo um rim, a timbaúva é chamada também de timbaúba, pau-de-sabão, orelha-de-onça, timbó etc.
Presente em diversos biomas brasileiros, como Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, é uma árvore de grande porte, podendo atingir entre 20 e 35 metros de altura, que surpreende pelo papel que desempenha no equilíbrio ambiental.
Timbaúva é uma árvore de grande porte que pode atingir entre 20 e 35 metros de altura
Cin-Ty Lee/iNaturalist
Possui folhas compostas por pequenos folíolos que se conectam a um eixo comum, chamado pecíolo. As flores crescem em formações globulares e apresentam de 10 a 20 pequenas flores brancas, que atraem polinizadores como abelhas, borboletas e besouros.
No início do desenvolvimento os frutos são verdes, mas, ao amadurecer, tornam-se pretos. Esses frutos são vagens recurvadas, com superfície glabra (lisa e sem pelos). Dentro deles, encontram-se sementes marrons e brilhantes.
No início do desenvolvimento, os frutos da timbaúva são verdes
leekelai/iNaturalist
Seu fruto, além do formato peculiar, abriga sementes ricas em proteínas e adaptadas a condições extremas: só germinam após passarem pelo trato digestivo de animais, como macacos, papagaios, antas, pacas e cutias, ou serem submetidas ao calor do fogo.
“Esse mecanismo natural é chamado de dormência e é crucial para a dispersão da espécie, pois permite que novas plantas surjam em ambientes propícios e sem competir diretamente com plantas geneticamente próximas”, explica a bióloga e especialista em botânica Carolina Ferreira.
O valor medicinal e os cuidados no pasto
Embora seja mais conhecida pelos projetos de restauração ecológica pelos benefícios que traz ao solo através da fixação de nutrientes, a timbaúva também desperta interesse científico por suas propriedades medicinais.
As flores da timbaúva crescem em formações globulares e possuem de 10 a 20 pequenas flores brancas, que atraem polinizadores como abelhas, borboletas e besouros
Dominique Hämmerli/iNaturalist
Estudos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificaram proteínas extraídas de suas sementes com potencial antitumoral, anti-inflamatório, anticoagulante e antitrombótico.
Apesar disso, especialistas alertam que mais pesquisas e ensaios clínicos são necessários antes que esses compostos possam ser usados em medicamentos.
“Na cultura tradicional, as cascas e frutos ricos em saponina são usados na produção de sabão, mas é preciso cuidado ao cultivá-la em áreas de pasto, pois o consumo excessivo de frutos por ruminantes, como bovinos, caprinos e ovinos, pode causar intoxicações e até abortos nesses animais”.
Ainda de acordo com a especialista, há propriedades bactericidas, fungicidas, inseticidas e larvicidas na casca e folhas.
Sobrevivência em ambientes áridos
Embora não seja endêmica da Caatinga, a timbaúva está presente em matas ciliares desse bioma. E para sobreviver em regiões tão áridas e com grandes variações climáticas, ela possui algumas características que a possibilitam tolerar períodos de seca.
Para sobreviver a regiões áridas, timbaúba consegue manter maior volume de água nos tecidos mesmo sem investir em mais raízes ou caules
Bill Pranty/iNaturalist
Segundo Carolina, a planta consegue manter maior volume de água nos tecidos mesmo sem investir em mais raízes ou caules. Além disso, a espécie perde as folhas durante a estação seca, reduzindo a perda de água por transpiração.
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