Jean-Marie Le Pen, fundador da extrema direita na França, morre aos 96 anos

O presidente Emmanuel Macron descreveu Jean-Marie Le Pen como uma ‘figura histórica da extrema direita que desempenhou um papel na vida pública do país por quase 70 anos’. Jean-Marie Le Pen, fundador da extrema direita na França, morre aos 96 anos
Reprodução/TV Globo
Morreu, aos 96 anos, o fundador da extrema direita na França, Jean-Marie Le Pen.
O homem mais controverso da política francesa estava internado em um asilo no subúrbio de Paris. A filha Marine Le Pen recebeu a notícia em viagem pela África. A relação entre os dois estava estremecida.
A atual líder da extrema direita passou a última década trabalhando para se afastar do discurso mais radical do pai, o fundador da Frente Nacional, partido criado em 1972.
Ao longo da carreira, Jean-Marie Le Pen minimizou o Holocausto – o assassinato de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista. Disse – e repetiu – que as câmaras de gás em que os judeus eram executados foram apenas um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial.
Também acumulou declarações racistas e xenofóbicas. Em 1995, afirmou: o fenômeno da imigração ameaça o equilíbrio das nossas sociedades e até a sua existência.
Um ano depois, disse que acreditava na desigualdade entre as raças e que elas não tinham a mesma capacidade. Jean-Marie Le Pen foi condenado várias vezes por incitar ódio racial e discriminação, contestar crimes contra à humanidade e fazer apologia a crimes de guerra.
Mesmo com as polêmicas, ele conquistou espaço. Foi deputado na França e no Parlamento Europeu. E disputou cinco eleições presidenciais. Aproveitando um descontentamento de parte da população com a imigração, ele chegou ao segundo turno em 2002.
Mas os demais partidos se uniram para barrá-lo e Jacques Chirac acabou vencendo com 82% dos votos. Em 2011, a filha Marine assumiu a liderança do partido, que rebatizou como Reunião Nacional. Ela suavizou o discurso e expulsou o pai, depois que ele voltou a repetir e minimizar o Holocausto. Ela agora aparece em primeiro lugar em pesquisas de opinião para a próxima eleição presidencial em 2027.
Não foi apenas a postura anti-imigração de Jean-Marie Le Pen que acabou ecoando em outros países na Europa. As críticas à União Europeia também, que enxergava como uma ameaça a soberania nacional.
Especialistas veem ainda influência de discursos dele bem além do continente e do século 20. Um historiador afirma que Jean-Marie Le Pen fazia uso estratégico das próprias polêmicas.
“As declarações extremamente violentas permitiam que ele polarizasse o debate. Com o tempo, isso virou um teto de vidro. Mas esse tipo de estratégia é visto em outros lugares”, avalia.
O líder da esquerda radical na França, Jean-Luc Mélenchon, disse que respeitar a dignidade dos mortos não anula o direito de julgar suas ações.
“As de Jean-Marie Le Pen permanecem insuportáveis”, afirmou.
O presidente Emmanuel Macron descreveu Jean-Marie Le Pen como uma “figura histórica da extrema direita que desempenhou um papel na vida pública do país por quase 70 anos”. E concluiu: cabe à história julgá-lo.
LEIA TAMBÉM
Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema direita na França, morre aos 96 anos
Arquiteto da ascensão da extrema direita na França, Jean-Marie Le Pen escandalizou até o fim da vida

Keep Up to Date with the Most Important News

By pressing the Subscribe button, you confirm that you have read and are agreeing to our Privacy Policy and Terms of Use
Advertisement